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25 abril, 2019

25 de abril - Zig Zag

Vozes - Nina



A minha avó dizia: “Obrigados a marchar! Quem manda? Salazar, Salazar!” Silêncio, anos 60, Ultramar! A independência Salazar quis calar! Jovens obrigados a combater, Milhares acabaram por morrer! Outros, com metal espetado na carne, Tantos sem vista! Só quem perde sabe! As granadas eram bem reais, Adormecendo corpos nunca mais iguais Destruindo a sanidade dos demais É que, para casa, tu já não vais! Braços cortados, pernas amputadas, E nós nada podíamos dizer! Eleições, nem as ver! Contra a guerra nem podias ser! É simples, a vida vale pouco, E, se estás mal, ele tira-te do jogo! Como troco, és corrido a soco! Não és mudo, mas se falas és louco! Respirava-se medo, Ideais guardados em segredo! A PIDE, o pior pesadelo! Quantos inocentes presos em degredo? Mas heróis são vocês, escrevendo entre linhas, Torturados, lutando por justiça E afirmando: “Nós pensamos diferente! Liberdade, pois, também somos gente! E não podemos falar do país quando está doente? “ Ser Português É ter a noção Que gente morreu Pela nossa nação! Lágrimas caíram E sangue derramou, Mas liberdade A nossa pátria salvou. Portugal mudou E o silêncio acabou! E o silêncio acabou! Pois o povo despertou E não se conformou! A revolta crescia! Porquê não ter uma vida digna? Em que o Tarrafal não fosse rotina, Trabalhos forçados não ceifassem a vida, Campo da morte lenta? Existia! Vomitando sangue, dia após dia! Portugueses caíam doentes, tanta vez! Doze numa cela, quando só cabiam três! Imagina, tu quereres dormir Mas a PIDE simplesmente o impedir! E queimar-te com cigarros, dar-te pancada, Obrigar-te à tortura da estátua... Neste jogo ditatorial, Ele quer assim e nós temos que pensar igual! Mas não! Não é o sangue o estandarte português! “O que achas de Salazar?” - Tanta pergunta porquê? Ele fazia-se de surdo, E cartas para a família, perdia-se tudo! Mas do óbito nasceu convicção! Para ditar fim à repressão! Descolonização alcançada E a liberdade conquistada! Ser Português É ter a noção Que gente morreu Pela nossa nação! Lágrimas caíram E sangue derramou, Mas liberdade A nossa pátria salvou. Portugal mudou E o silêncio acabou! E o silêncio acabou! Pois o povo despertou E não se conformou!

16 abril, 2019

Páscoa

"Quando Vier a Primavera", de Alberto Caeiro

Fotografia: ©Jonatasphotography 
Reproduzida com autorização do autor


Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro in Poemas inconjuntos

12 abril, 2019

Amor de água fresca


Quando eu vi olhos de ameixa e a boca de amora silvestre
Tanto mel, tanto sol, nessa tua madeixa, perfil sumarento e agreste
Foi a certeza que eras tu, o meu doce de uva
E noz sobre a mesa, o amor de morango e cajú
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá tenho sede, quero o teu amor d'água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá tenho sede, quero o teu amor d'água fresca, ohoh...
Tens na pele travo a laranja e no beijo três gomos de riso
Tanto mel, tanto sol, fruta, sumo, água fresca, provei e perdi o juízo
Foi na manhã acesa em ti, abacate, abrunho
E a pêra francesa, romã, framboesa, kiwi
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá tenho sede, quero o teu amor d'água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem... vem... vem cá, tenho sede, quero o teu amor d'água fresca
Ah... foi na manhã acesa em ti, abacate, abrunho
E a pêra francesa, romã, framboesa, kiwi
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá, tenho sede, quero o teu amor d'água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá, tenho sede, quero o teu amor d'água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta

Artista: Dina
Álbum: Guardado Em Mim
Data de lançamento: 2002