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21 maio, 2018

"O POEMA IMPOSSÍVEL", de António Arnaut


Dói-me o poema que nunca escreverei. 
O único que gostaria de deixar 
embutido na lembrança como a corola 
nas pétalas iluminadas do tempo.
Um poema que fosse uma flor desfolhada 
pelo vento solidário do futuro: 
cada sílaba um aroma e cada verso 
a emotiva respiração do encontro.
Um poema que tivesse a forma de um abraço 
e o ritmo tenso de corações irmanados 
que saúdam o casto alvorecer 
num cântico de pássaros libertos.
Nunca escreverei esse poema. 
Mas ele está dentro de mim tão vivo e justo, 
tão íntimo e luminoso como o Sol 
no puro olhar do homem primitivo.
Não se escreve o sentimento que não cabe 
no precário barro das palavras. 
Toda a revelação sonha calada 
como a semente no ventre da terra.
É de esperança a mensagem que me grita, 
indecifrável no silêncio da raiz.
António Arnaut

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