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31 dezembro, 2017

A PAZ SEM VENCEDOR E SEM VENCIDOS




Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos
Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ter melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos
Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos
Sophia de Mello Breyner Andresen, 1972

24 dezembro, 2017

Boas Festas!



…A misericórdia e a verdade encontraram-se. A justiça e a paz beijaram-se… (Salmo 85:10)
…La misericordia y la verdad se encontraron; La justicia y la paz se besaron… (Salmos 85:10)
…Mercy and loving-kindness and truth have met together; righteousness and peace have kissed each other… (Psalm 85:10)


Feliz Natal / Feliz Navidad / Merry Christmas

21 dezembro, 2017

História dum Menino




A Belém foram os magos
uma estrela os guiou
e encontraram o Menino
que o mundo salvou.

Ouro, incenso e mirra
trouxeram ao Senhor
e postrando-se adoraram
o Messías Redentor.

Mas em sonhos avisados
Não voltaram junto ao rei
pois Herodes bem queria
matar o Menino Rei.

Mas o Anjo do Senhor
também apareceu a José
e disse a este em sonhos
que fugisse de Belém.

Foram então para o Egipto
e moraram alí,
e o dito pelo profeta
uma vez mais se cumpriu.

E morrendo Herodes
tornaram para Israel
e habitaram numa cidade
a que chamavam Nazaré.

Nazareno foi chamado
e no Jordão, baptizado,
no Calvário, O mataram
mas dos mortos levantado.

Maria da Luz Maia
Aveiro, Natal de 83

17 dezembro, 2017

Princípios e dignidade



 “Os princípios mais importantes podem e devem ser inflexíveis”.
Abraham Lincoln, 16º Presidente dos Estados Unidos (1809 – 1865)

A história demonstra que existem sempre pessoas autênticas e dignas, que preferem morrer a abdicar dos seus princípios. São os acontecimentos da vida que nos moldam, mas são as nossas escolhas que nos definem. Sê fiel a ti mesmo, à tua verdade, à tua aceitação, à tua gratidão, ao teu amor e à tua responsabilidade.

Por falar em princípios e em dignidade, imagina o que terão pensado os romanos quando viam que os cristãos preferiam enfrentar leões, no Coliseu de Roma, do que renegar a sua fé...

Consta que de todos os génios da pintura, Van Gogh terá sido sempre o mais criticado. Apesar disso, duas das suas obras intemporais estão ainda hoje entre as dez mais caras do mundo. Este pintor holandês viveu uma vida marcada por fracassos e críticas violentas que o levaram à insanidade e ao suicídio. Diz a história que ele pedia aos amigos para levarem, gratuitamente, as suas telas para as casas deles e para as pendurarem nas paredes.

Cansado de ser enxovalhado, convidou os três grandes gurus da crítica da sua pacata cidade, para passarem em casa dele numa tarde de sábado, de modo a que eles demonstrassem como se pintava. Arranjou três grandes telas novas. Para além disso, seleccionou todas as suas tintas e pincéis de diferentes texturas e dimensões para que os gurus pudessem utilizá‐las. Vincent Van Gogh esperou... Esperou humildemente... Esperou curioso e com sede de melhorar a sua arte... Esperou com o sincero desejo de aprender com os outros... Esperou... Mas ninguém apareceu.

in Bestseller  “Acredita em Ti”
Eduardo Ramadas da Silva

13 dezembro, 2017

Leadenhall Market e Harry Potter



O Leadenhall Market é um dos pontos de visita para os fãs de Harry Potter, por ali ter sido filmada uma cena de “Harry Potter e a Pedra Filosofal”.

Fotografia: © Jonatasphotography
Reproduzida com autorização do autor



Cena do filme “Harry Potter e a Pedra Filosofal”

08 dezembro, 2017

Ser poeta


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendos
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

(Florbela Espanca, «Charneca em Flor», in «Poesia Completa»)

15 novembro, 2017

Soneto de Fidelidade

Fotografia: ©Jonatasphotography 
Reproduzida com autorização do autor


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Morais

27 outubro, 2017

Outono - Miguel Torga



Outono

Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga


Do livro: Diário X, s/editora, 1966, Coimbra

07 outubro, 2017

Kazuo Ishiguro






“Adoro viver em Londres, mas se tivesse que escrever um livro sobre Londres, retratava a capital como um vampiro que suga o sangue ao resto do país” - Kazuo Ishiguro


“I love living in London, but if I had to write a ‘London novel’, I’d portray the capital as a vampire sucking the blood out of the rest of the country. I’m amazed people in Britain accept so quietly this lack of regional balance.” - Kazuo Ishiguro
Fonte




22 setembro, 2017

Paz


"... a palavra PAZ tem apenas três letras, mas são letras contundentes e graníticas. É uma palavra que amamos porque a dissemos e escrevemos durante séculos sem conseguir, e não por nossa culpa, que ela, a PAZ, seja a luz que ilumina as nossas vidas. Mas continuamos a insistir, justamente porque sabemos que essa palavra PAZ é outra das grandes jóias da universalidade humana..."
Luís Sepúlveda in O Poder dos Sonhos (Asa, 2006)
Fotografia: © Jonatasphotography
Reproduzida com autorização do autor

18 setembro, 2017

Soneto de separação




De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Vinicius de Moraes.

17 setembro, 2017

Inspiring vision



"An inspiring vision is about creating what you want, not getting rid of what you don't want." ~ Jesse Lyn Stoner

15 setembro, 2017

A Maior Flor do Mundo


E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos?
Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?


José Saramago

09 setembro, 2017

O homem que plantava árvores

Wook.pt - O Homem que Plantava Árvores


Há cerca de quarenta anos, eu fazia uma longa viagem a  pé em altitudes absolutamente desconhecidas pelos turistas, numa região antiga. Na época em que se compreendeu minha longa caminhada por esta região desértica, nada crescia por lá exceto alfazema selvagem. Era uma terra deserta, árida e monótona.
Após três dias de caminhada, encontrava-me no meio de uma desolação sem igual. Acampava ao lado do esqueleto de uma aldeia abandonada. Não tinha água desde a véspera e eu necessitava encontrá-la. Aquelas casas aglomeradas como um velho ninho de vespas, embora em ruínas, levaram-me a pensar que talvez lá tivesse havido em tempos passados uma fonte ou um poço. Havia de facto uma fonte, mas estava seca.
Tive de levantar o acampamento. Ao fim de cinco horas de caminhada, eu ainda não tinha encontrado água, e nada me dava esperanças de poder vir a encontrá-la. Por todos os lados a mesma secura, as mesmas plantas lenhosas. De repente vi ao longe uma pequena silhueta negra. Fosse o que fosse; dirigi-me para ela. Era um pastor. Umas trinta ovelhas, deitadas sobre a terra escaldante, descansavam perto dele.
Ele deu-me de beber e, um pouco mais tarde, conduziu-me à sua cabana que se situava numa ondulação do planalto. Ele extraía a sua água, uma água excelente, de um furo natural muito profundo, ao lado da cabana.
Esse homem falava pouco. Isto é próprio das pessoas solitárias, mas parecia confiante e seguro de si.
Sua cabana estava arrumada, a louça lavada, o chão varrido; ao lume fervia uma panela de sopa. Reparei então que ele estava barbeado, que todos os seus botões estavam bem cosidos, que a sua roupa estava remendada com aquele cuidado minucioso que torna os remendos invisíveis.
Ele partilhou sua sopa comigo e, quando lhe ofereci meu tabaco, disse-me que não fumava. O seu cão, silencioso como ele, era amigável, mas não submisso.
Imediatamente se tornou claro, por um acordo tácito, que eu passaria a noite ali. A aldeia mais próxima ficava a mais de um dia de caminhada. E, além disso, eu conhecia perfeitamente o carácter das aldeias daquela região. Umas quatro ou cinco, dispersas pelos flancos das alturas, nas matas de carvalhos brancos, longe umas das outras, na extremidade de caminhos por onde podiam passar carruagens. São habitadas por lenhadores que fazem carvão de madeira. Suas vidas eram pobres. As famílias, apertadas em pequenos espaços, nesse clima que é duma rudeza excessiva, fecham-se no seu egoísmo, numa ambição irracional, desejando continuamente escapar-se deste lugar.
Havia concorrência em tudo, desde a venda do carvão até o banco da igreja. Sobre tudo isso, um vento que irrita os nervos sem cessar. Há epidemias de suicídios e numerosos casos de loucuras, quase sempre mortíferas.
O pastor, que não fumava, foi buscar um saquinho e despejou sobre a mesa um monte de bolotas. Pôs-se a examinar com muita atenção, uma após outra, separando as boas das más. Eu fumava o meu cachimbo. Ofereci-lhe ajuda, mas ele disse-me que era assunto seu. Quando tinha do lado das boas bolotas um monte bastante grande, contou-as em grupos de dez. Ao fazer isso, eliminava ainda os frutos pequenos ou os que estavam ligeiramente fendidos, pois os observava de muito perto. Quando, enfim, juntou diante de si cem bolotas perfeitas, parou e fomos dormir.
O convívio com este homem dava uma grande paz. No dia seguinte pedi-lhe autorização para passar o dia todo com ele. Ele considerou isso natural ou, mais exatamente, deu-me a impressão de que nada poderia incomodá-lo. Ele fez sair o rebanho e levou-o para a pastagem. Antes de partir, molhou num balde de água o pequeno saco onde tinha posto as bolotas cuidadosamente escolhidas e contadas.
Reparei que em vez do cajado ele levava um varão de ferro grosso como o dedo polegar e com cerca de um metro e meio de comprimento.
Ele deixou o pequeno rebanho à guarda do cão e subiu em direção ao local onde eu me encontrava. Ele convidou-me a acompanhá-lo caso não tivesse nada de melhor para fazer. Ele ia a uns duzentos metros para cima.
Chegando ao local onde queria, começou a espetar o varão de ferro na terra, isto fazia um pequeno buraco no qual metia uma bolota, depois tapava o buraco de novo. Ele plantava carvalhos. Perguntei-lhe se a terra lhe pertencia. Ele respondeu que não. Sabia de quem era? Ele não sabia. Supunha que era uma terra comunal ou talvez fosse de alguém que não se importava com ela. Ele não se preocupava nada por não conhecer os proprietários. Plantou assim as suas cem bolotas com um cuidado extremo.
Depois do meio-dia, ele começou a selecionar as suas sementes. Devo ter insistido muito nas minhas perguntas, pois ele ia respondendo. Havia três anos que ele plantava árvores naquela solidão. Já tinha plantado cem mil. Dessas cem mil, vinte mil tinham nascido. Dessas vinte mil, ele contava perder metade por causa dos animais roedores ou de tudo o que é impossível. Restavam dez mil carvalhos que iam crescer naquele local onde antes não havia nada.
Nesse momento interroguei-me sobre a idade daquele homem. Tinha visivelmente mais de cinquenta anos. Cinquenta e cinco, disse ele. Chamava-se Elzéard Bouffier. Tinha tido uma fazenda nas planícies, onde viveu parte de sua vida. Tinha perdido sua esposa e seu único filho, e então ele retirara-se para a solidão onde lhe dava prazer viver lentamente com as suas ovelhas e o seu cão. Ele tinha concluído que aquele país morria por falta de árvores. Acrescentou que, não tendo ocupações muito importantes, ele resolveu remediar a situação.
Disse-lhe que em poucos anos esses dez mil carvalhos estariam magníficos. Ele respondeu-me muito simplesmente que, se Deus lhe desse vida, em trinta anos ele teria semeado muitas outras árvores que esses dez mil seriam uma gota de água no oceano.
Aliás, ele já estudava a reprodução dos carvalhos e tinha perto de sua cabana um viveiro de amêndoas de faias. Aquelas que ele tinha protegido dos seus animais por uma cerca de tela estavam belíssimas. Ele também estava considerando bétulas para o fundo do vale onde, disse-me ele, que a humidade estava adormecida a poucos metros da superfície do solo. Separámo-nos no dia seguinte.
No ano seguinte começou a guerra de 14, na qual estive durante cinco anos. Eu tinha esquecido todo o acontecimento. Um soldado de infantaria não podia refletir sobre árvores.
Saído da guerra, encontrava-me com um grande desejo de respirar um pouco de ar puro. Foi sem qualquer outra ideia pré-concebida que retomei o caminho para aquele país deserto. A terra não tinha mudado, contudo, para além da aldeia morta, vislumbrei ao longe uma espécie de névoa cinza que cobria as colinas como um tapete. Eu tinha recomeçado a pensar naquele pastor, que plantava árvores. “Dez mil carvalhos”, eu refletia, “ocupam de fato um grande espaço”.
Tinha visto muita gente morrer durante cinco anos para não imaginar facilmente a morte de Elzéard Bouffier.
Ele não tinha morrido. De fato, estava mesmo muito vivo. Ele tinha mudado de profissão. Agora possuía apenas quatro ovelhas mas, em compensação, tinha uma centena de colmeias. Tinha-se livrado das ovelhas, porque elas colocavam em perigo a plantação de árvores. A guerra não tinha perturbado a todos. Ele tinha continuado imperturbavelmente com a sua plantação.
Os carvalhos de 1910 tinham agora dez anos e estavam mais altos do que eu e do que ele. O espetáculo era impressionante. Como ele não falava, passamos o dia todo em silêncio, andando pela floresta. Isto estava em três talhões, onze quilómetros de comprimento, no seu ponto mais longo, e três quilómetros de largura. Eu me lembrava que aquilo tudo tinha saído das suas mãos e da alma daquele homem, sem meios técnicos. Eu estava literalmente sem palavras.
As faias que me chegavam aos ombros, espalhadas a perder de vista. Os carvalhos estavam vigorosos e tinham ultrapassado a idade em que estavam à mercê dos roedores para destruir a obra criada, estavam agora em pé uma ao lado da outra. O pastor me mostrou admiráveis bosquezinhos de bétulas que datavam de cinco anos atrás. Tinha-as feito ocupar todos os vales onde ele suspeitava, com razão, que haveria humidade quase na superfície. Estavam tenras como jovens garotas e muito decididas.
A criação parecia, aliás, realizar-se por uma reação em cadeia. Ele não se preocupava com isso, mas prosseguia obstinadamente a sua simples tarefa. Mas ao descer novamente pela aldeia, vi correr água em riachos que, na memória viva, sempre tinham estados secos. Foi o mais formidável renascimento, que me foi dado presenciar.
O vento também dispersava certas sementes. Ao mesmo tempo em que reapareceu a água, reapareciam salgueiros, prados, jardins, flores e uma certa alegria de viver.
Mas a transformação acontecia tão lentamente que entrava nos hábitos sem provocar espanto. Os caçadores, que subiam às alturas na perseguição de lebres ou de javalis, tinham na verdade constatado a população das pequenas árvores, mas tinham-na atribuído aos caprichos naturais da terra. Por isso ninguém tocava na obra daquele homem. Quem, entre os aldeões ou os administradores, teria suspeitado que qualquer um poderia mostrar essa obstinação na realização deste magnífico ato de generosidade?
A partir de 1920 nunca fiquei mais de um ano sem visitar Elzéard Bouffier. Nunca o vi desfalecer nem hesitar, apesar de que só Deus sabe, que sua vida não foi fácil. Eu nunca disse nada sobe suas decepções, mas você pode facilmente imaginar que deve ter sido necessário vencer a adversidade. Ele tinha, durante um ano, plantado mais de dez mil áceres vermelhos. Todos tinham morrido. No ano seguinte; desistiu dos áceres para retomar as faias, as quais resultavam ainda melhor que os carvalhos.
Para ter uma ideia mais ou menos exata deste carácter excepcional, é preciso não esquecer que ele trabalhava numa solidão total, tão total que, no fim de sua vida, ele tinha perdido o hábito de falar. Ou será que não via necessidade?
Em 1933 ele recebeu a visita de um guarda florestal deslumbrado, que ordenou-lhe que não fizesse qualquer fogueira fora, com medo de pôr em perigo aquela floresta “natural”. Nessa época ele ia plantar faias a doze quilómetros da sua casa. Para evitar o ir e vir, porque tinha então setenta e cinco anos, tencionava construir uma cabana de pedra nos próprios locais de suas plantações. O que ele fez no ano que se seguiu.
Em 1935, uma verdadeira delegação administrativa foi examinar a “floresta natural”. Desejavam fazer qualquer coisa e, felizmente não se fez nada, a não ser a única coisa útil: colocar a floresta sob a guarda do Estado e proibir que lá se fosse fazer carvão. Pois era impossível não ficar subjugado pela beleza daquelas jovens árvores em plena saúde.
Eu tinha um amigo entre os chefes florestais da delegação. Expliquei-lhe o mistério. Nós fomos à procura de Élzeard Bouffier. Encontrámo-lo em pleno trabalho a vinte quilómetros do local onde tinha sido feita a inspeção.
Antes de partir, meu amigo fez apenas uma breve sugestão acerca de certas espécies às quais o terreno dali parecia ser favorável. Mas ele não insistiu. “Pela simples razão”, disse-me depois, que, “aquele homem sabe mais disso do que eu”. Depois de uma hora de nossa caminhada, ele acrescentou: “Sabe muito mais disso do que todo mundo e ele encontrou uma ótima maneira de ser feliz!”
Foi graças a esse chefe que, não somente a floresta, mas a felicidade daquele homem foram protegidas. Ele nomeou três guardas florestais para essa proteção e amedrontou-os de tal maneira que ficaram insensíveis a quaisquer “garrafas de vinho” que os carvoeiros pudessem oferecer-lhes como gorjeta.
A floresta não correu nenhum risco grave, exceto durante a guerra em 1939. Os automóveis moviam-se a gasogénio, a madeira nunca era suficiente. Começaram a fazer cortes nos carvalhos de 1910. Mas essas árvores estavam tão afastadas das estradas que o empreendimento se revelou muito ruim do ponto de vista financeiro e foi abandonado. O pastor não tinha visto nada. Estava a trinta quilómetros, continuando calmamente o seu labor, ignorando a guerra de 39 como tinha ignorado a de 14.
Eu vi Elzéard Bouffier pela última vez em 1945. Ele tinha então oitenta e sete anos. Eu tinha retomado a rota do deserto, mas agora, estava funcionando um autocarro lá. Atribuí a esse meio de transporte o fato de não estar reconhecendo os lugares dos meus primeiros passeios. Parecia-me também que o itinerário me fazia passar por lugares novos. Precisei perguntar o nome de uma aldeia para concluir que estava mesmo nessa região dantes em ruína e desolação.
Em 1913, esta aldeia de dez a doze casas tinha três habitantes. Eram selvagens, detestavam-se, viviam da caça com armadilhas. As urtigas devoravam as casas abandonadas.
Tudo estava mudado, até o ar. No lugar das rajadas secas e brutais que dantes me tinham acolhido, soprava uma brisa suave carregada de doces odores. Um ruído semelhante ao da água vinha das alturas. Era o vento nas árvores. Enfim, o maior espanto foi ouvir o verdadeiro som da água correndo para um tanque. Eu vi que tinham feito uma fonte, que a água era abundante e, o que mais me tocou, tinham plantado ao pé da fonte uma tília que podia ter já uns quatro anos, já grossa, símbolo incontestável duma ressurreição.
O lugarejo tinha agora vinte e oito habitantes, entre os quais quatro jovens casais. As casas novas, reboco novo, estavam rodeadas de hortas onde cresciam, misturados mas alinhados, legumes e flores, couves e roseiras, peras e flores de coelho, aipos e anémonas. Era um lugar onde se desejaria viver.
A partir daí eu continuei o meu caminho a pé. Nos flancos aplanados da montanha, eu via pequenos campos de cevada e centeio, no fundo dos vales estreitos as terras foram virando pasto verde.
As velhas nascentes alimentadas pelas chuvas e pelas neves que as florestas retêm, recomeçaram a correr. Os riachos foram canalizados. Ao lado de cada fazenda, em meio a bosques de plátanos, os tanques das fontes transbordam sobre tapetes de hortelã fresca.
As aldeias reconstruíram-se pouco a pouco. Uma população vinda das planícies, onde a terra é cara, fixara-se na região trazendo juventude, movimento e espírito de aventura. Encontravam-se pelos caminhos homens e mulheres bem alimentados, meninos e meninas sorrindo. Mais de dez mil pessoas deviam a sua felicidade a Elzéard Bouffier.
Quando penso que um único homem, confiando em seus próprios recursos físicos e morais, fora capaz de transformar um deserto nesta terra de Canaã, estou convencido de que, apesar de tudo, a condição humana é verdadeiramente admirável. Mas quando considero a grandeza de alma e a dedicação necessárias para obter esta transformação, sinto um imenso respeito por esse velho camponês sem cultura.
Adaptado de Jean Giono



«O Avô e os Netos falam de Geologia» de A. M. Galopim de Carvalho

Introdução
Naquele Verão, era quase sempre com o Sol a descer para lá do Oceano, que o avô falava das muitas coisas que haviam preenchido o seu mundo como geólogo e professor de geologia. Sob o alpendre coberto de hera, no pequeno terraço anexo à casa, uma grande mesa com tampo de ardósia, onde se podia escrever com giz, e algumas cadeiras eram o centro preferido para estas conversas com os três netos.
Liberta a mesa de tudo o que servira o jantar, o Domingos e os gémeos Francisca e Mateus, rodeando o avô, tinham nos olhos o brilho da curiosidade. Mais velho, o Domingos, terminara o 7.º ano de escolaridade. O Mateus e a Francisca tinham concluído o 6.º.
O tempo de férias era agora todo deles, com praia pela manhã, jogos e leituras, dentro de casa, nas horas mais quentes da tarde e aquele apetecido convívio ao fim do dia, que os conduzia a maravilhosas viagens e aventuras. Embalados nas palavras do avô, “caminhavam” sobre rochedos em altas montanhas, “corriam” no solo fofo das estepes e pradarias, “pisavam” o chão áspero e duro dos vales secos e gélidos da Antárctida, “respiravam” a humidade quente e perfumada da floresta amazónica, “mergulhavam” nas profundezas do oceano e “nadavam” nas águas tropicais, límpidas e mornas, por entre corais e peixinhos de todas as cores.
Ouvindo as histórias que o avô contava, “subiam” ao topo de vulcões jorrando lavas incandescentes ou projectando nuvens imensas de cinza, “escorregavam” nas dunas escaldantes no deserto do Sahara ou “percorriam” grutas repletas de cristais e imaginavam-se entre dinossáurios e muitos outros animais desaparecidos. Encorajado pelo interesse e pela atenção dos netos, o avô não parava de falar. Paisagens que percorrera, profundas minas a que descera, museus que visitara, grandes figuras que conhecera e episódios que vivera ou presenciara eram condimentados com ensinamentos nos domínios em que trabalhara e que, ao mesmo tempo, estivessem entre as matérias constantes dos programas escolares destes três elementos do seu pequeno e interessado auditório. E era tudo tão agradável e entusiasmante.
Ouvir o avô era como ver um filme ao lado de alguém que explicava e tornava fácil o que parecia difícil de entender. A cada passo, as novas palavras necessárias ao discurso iam sendo descodificadas, “traduzidas por miúdos”, como dizia o avô, ganhando significado. 
Como exemplo demonstrativo do estilo adoptado, mostra-se aqui dois dos 33 capítulos do livro .
É PRECISO DESCODIFICAR AS PALAVRAS 
A tarde estivera particularmente quente e foi ainda no final do jantar, servido na mesa do terraço, enquanto saboreava o gelado trazido do supermercado, que a Francisca perguntou ao avô qual seria o assunto da primeira das conversas prometidas, a terem lugar ali, à semelhança do que acontecera nas férias de verão do ano anterior. Seriam, certamente, mais uma daquelas lições, dadas num jeito de contar histórias, que dava gosto ouvir.
- Nas conversas que vamos ter este ano, - começou o avô - acho que vou começar com algumas reflexões sobre as palavras que irão ouvir, muitas delas novas e sem significado, se não forem convenientemente explicadas.
- Diga avô. Adiantou-se o Mateus.
- Vamos, então, começar pelo significado das palavras. Todos se acordo?
- Sim, avô. – Disseram, quase ao mesmo tempo, a Francisca e o Mateus.
- E eu também. – Disse, logo a seguir, o Domingos.
- Uma grande verdade que eu aprendi em quarenta anos de professor e muitos mais como divulgador de ciência a todos os níveis, é que «o discurso do professor tem de ser simples, sem perda de rigor, apelativo e, sempre que possível, agradável». Só assim o aluno ou quem o escuta ou lê tem gosto em aprender e aprende.
- É como faz o avô. A gente aprende logo. Quase que não precisa estudar. – Disse este neto.
- Todas as actividades, sejam elas quais forem, das mais simples às mais complicadas, precisam de palavras para dar nomes a todas as ferramentas ou utensílios de que se servem e a tudo o que nelas se faz ou produz. Por exemplo, os cozinheiros servem-se de facas, tachos e panelas, fritam, cozem e assam. Os alfaiates e as costureiras mexem em tesouras, agulhas, linhas e botões, fazem casacos e vestidos e falam de lã, algodão, seda e linho. Todos eles usam palavras que toda a gente conhece, mas também usam outras que nós nem pensamos que existem. Passa-se o mesmo com os médicos, os economistas, os juristas e todos os cientistas e técnicos dos mais variados ramos. Também eles falam de nomes do dia-a-dia de toda a gente, mas atiram-nos à cara muitos outros que só eles e muito poucos entendem. Em suma e simplificando, tudo o que se pensa ou faz e tudo em que se mexe tem um nome. Com a geologia é a mesma coisa. Além das palavras vulgares esta ciência que estuda a Terra criou as suas próprias palavras.
- É mesmo isso. – Interrompeu o neto mais velho. - Quando o avô ou a minha professora falam de coisas da geologia, aparecem sempre palavras novas.
- Os cientistas estão sempre a descobrir coisas novas e, assim têm de criar neologismos. Aqui têm os meus netos, uma palavra que vem mesmo a calhar. Neologismo é o nome que se dá a uma palavra criada de novo e que foi feita a partir dos elementos gregos, neo, que quer dizer novo, e logos, que significa estudo, conhecimento.
- Então, temos de aprender grego? – Perguntou o Mateus com ar de alguma preocupação.
- Não. Basta que saibam o significado dos termos que entram na composição dos vocábulos próprios das disciplinas que têm de estudar. Uns vêm do grego, outros do latim.
- Vocábulos, Avô? – Interrompeu, de novo, o Mateus.
- Aí tens tu uma palavra tirada do latim vocabulu que quer dizer nome de uma coisa. Mesa, copo, lápis, areia, piscina, mar e todos os nomes que conheces e não conheces são vocábulos. Entre os vocábulos usados em geologia, por exemplo, há palavras que toda a gente conhece, como montanha, rocha, areia, erosão, mina, vulcão, e palavras só usadas pelos profissionais, como turbitito, gliptogénese, anatexia, piroclasto, orógeno, hialoclastito e muitíssimas outras, em número de centenas. São nomes que, de momento, nada vos dizem e que, a seu tempo, poderão vir a conhecer.
- E são essas que vamos aprender? – Perguntou o Domingos.
- Por agora nem todas, mas, mais tarde, certamente que sim. - Continuou o avô. - Eu costumo dizer que são palavras “caras” que é preciso “trocar por miúdos”. No século XVIII, quando as ciências começaram a ganhar importância, estudar e criar conhecimento era uma actividade, praticamente, só exercida no seio do clero, por padres e monges, e também por alguns representantes da nobreza. O latim e o grego faziam parte das disciplinas habituais no ensino a que, nesse tempo, só estas classes tinham acesso. O povo, dizia-se, não precisava estudar. Bastava-lhe a força dos braços e a habilidade das mãos. Estava-se muito longe de o ensino ser obrigatório para toda a gente.
- A cabeça do povo era só para pôr o chapéu ou o barrete.
- Entrou na conversa a avó, atenta à conversa. – O clero e a nobreza sabiam muito bem que os seus privilégios assentavam na ignorância do povo.
- E fiquem a saber - acrescentou a mãe das crianças, atenta a esta conversa - que, mesmo depois e por muito tempo, estudar era uma actividade só acessível aos homens. As mulheres não tinham essa possibilidade. Serviam para tudo menos para estudar. Estavam destinadas a serem boas esposas, boas mães e boas donas de casa. Ainda pouco na geração da avó, mas depois, felizmente, na minha, as raparigas já puderam estudar lado a lado com os rapazes.
- Era como ainda hoje em algumas sociedades dominadas por fundamentalistas religiosos, em que as raparigas estão proibidas de ir à escola. – Lembrou a avó.
 - Hoje, nas nossas escolas, - continuou a mãe das crianças - praticamente, ninguém estuda latim ou grego. Só na Universidade e, mesmo assim, são poucos os alunos que frequentam estas disciplinas. O latim que os romanos falavam já não se fala em parte nenhuma, nem em Itália. E o grego que se fala na Grécia já sofreu grandes alterações.
- Bom, mas continuemos. - Interrompeu o avô. - Os cientistas têm de dar nomes às coisas que vão descobrindo ou, por outras palavras, como já dissemos, têm de criar neologismos. E, respeitando a tradição, fazem-no a partir de nomes que vão buscar a essas duas línguas da Antiguidade. São palavras que, praticamente, só eles e os seus pares entendem.
- E geologia é outra dessas palavras, não é, avô? – Disse o Mateus. - Aí temos nós mais um bom exemplo para começar. – Continuou o avô.
- A palavra geologia foi feita juntando dois elementos também de origem grega, geo, que significa Terra, e logos, que quer dizer estudo, conhecimento. Geologia é hoje uma palavra conhecida de muita gente mas, no século XVIII, quando foi introduzida com o significado que lhe damos, só os mais eruditos a conheciam. Eruditos, Avô? Isso é outra palavra cara? – Perguntou o Mateus, a rir.
- É uma palavra que fomos buscar ao latim eruditu e que se aplicava a uma pessoa que sabia muito. E quem diz geologia diz muitas outras. Por exemplo, a palavra cassiterite, nome que foi dado ao mineral de estanho que podem ver aí na colecção que o Domingos começou a fazer, teve origem no grego, kassiteros, que significa estanho, e a que se acrescentou o elemento ite com que terminam os nomes da maioria dos minerais.
- A minha professora também explica as palavras mais esquisitas. - Disse o Domingos.
- À medida que formos falando de geologia – continuou o avô - iremos sempre explicando como nasceram as novas palavras que forem aparecendo, o que torna fácil tudo aquilo que parece difícil. Se souberem o significado dos elementos de que são feitos os nomes que forem aprendendo, eles passam a fazer uma parte sólida do vosso conhecimento.
- Diga mais palavras dessas. Avô. – Pediu a Francisca. - Digo só mais uma que iremos usar muitas vezes,
- Diga, avô. – Entusiasmou-se a neta.
- Litosfera, que é o nome que se dá à camada exterior da Terra, toda ela formada por rochas. Analisando esta palavra verificamos que, também ela, foi feita juntando dois nomes gregos: lithós que significa pedra ou rocha, e sphaira que, está-se mesmo a ver, quer dizer esfera.
- Assim, fica tudo mais fácil. Obrigado, avô.
- Por hoje já chega. Para terminar, vamos meter bem na cabeça que todos os vocábulos que ouvirmos ou lermos, à medida que formos avançando no nosso estudo, têm de ser explicados. Se não tivermos este cuidado, não passam de palavrões sem significado que decoramos para podermos responder no exame e que, depois, se esquecem para sempre. E agora vão brincar um bocadinho, antes de irem para a cama.  
À SEMELHANÇA DE UMA CEREJA 
- Ó avô, - começou o Domingos, naquele fim de tarde, com o Sol a esconder-se no horizonte,
- Este ano, lá na escola, aprendemos que a Terra tem um núcleo, um manto e uma crosta. Como é que se pode saber isso se ninguém lá foi ao fundo?
- Ninguém foi nem ninguém poderá ir. – Respondeu o avô. - O calor lá bem no fundo é tanto que derrete o ferro e a pressão é tão forte que se lá pudéssemos chegar, como disse o teu pai, ficávamos mais pequeninos do que um caroço de azeitona.
- Ó avô, mas como é que a pressão faz as coisas mais pequeninas? – Perguntou a Francisca. - É muito simples, minha neta. A resposta é «Porque aperta». Pega num bocado de miolo de pão e aperta-o bem na tua mão e vê o que é que acontece.
- Já percebi, avô.
- Ó avô, explique lá isso do calor. A gente põe os pés aqui no chão e sente a pedra fria. Como é que está quente lá por baixo? – Perguntou, interessado, o Mateus.
- Primeiro vamos procurar saber como é que o nosso planeta é por dentro. - É como se fosse uma cereja, disse a minha professora. – Adiantou o irmão mais velho.
- Do que temos por baixo dos nossos pés, - começou o avô - só podemos ver e estudar, directamente, as rochas que escavamos nas minas e as que trazemos à superfície através de sondagens. Mas isso leva-nos a profundidades que não são nada quando comparadas com os mais de 6300 km de raio desta grande bola que é a Terra.
- Ó avô, nós já descemos a uma mina, mas eu não sei o que é uma sondagem. – Disse, de imediato, o Mateus.
- Foi em Loulé, na mina de sal. – Acrescentou a Francisca. - Fomos todos num elevador até lá abaixo.
- Uma sondagem em geologia, meu neto, é um furo no chão para se colherem as rochas em profundidade e as podermos estudar. Vou explicar-te, da maneira mais fácil de entender, o que é uma sondagem. Vai buscar uma maçã e o descaroçador com que se prepara para a assar no forno. A correr, o neto entrou em casa e saiu, instantes depois, com o solicitado. Atravessando o fruto com o dito utensílio, o avô retirou dele aquele rolinho do seu interior que contém as sementes.
- Estás a ver? – Disse o avô. – Este rolinho traz cá para fora e deixa ver a parte de dentro da maçã. Se fizeres o mesmo nesta floreira, tiras dois ou três centímetros da terra que está escondida. Uma sondagem faz o mesmo. Vai furando chão adentro e traz para a superfície amostras das rochas que vai atravessando.
- A minha professora mostrou um vídeo onde pudemos ver os homens a fazerem uma sondagem à procura de petróleo. - Comentou o Domingos.
- Sempre que se deseja construir uma barragem, uma ponte, um grande edifício ou qualquer outra obra suficientemente importante, é fundamental saber se o terreno que está por baixo, ou seja, se as rochas que lhe servem de suporte aguentam a respectiva sobrecarga. Nesse sentido fazem-se tantas sondagens quantas as julgadas necessárias. A procura de petróleo, de gás natural e de águas subterrâneas ou, ainda, outros estudos, não dispensam o uso de sondagens.
- A minha professora disse ainda que o mais fundo onde o homem já chegou é numa mina de ouro, na África do Sul, onde se pode descer até cerca de 4 quilómetros de profundidade, e que a sondagem mais profunda ultrapassa os 12 km.
- E disse muito bem, Domingos. Tiveste uma boa professora. Essa sondagem foi feita na Península de Kola, na Rússia, e o que, parecendo muito, face à dificuldade e ao tempo gasto a fazê-la, é muito pouco, pois trouxe para a superfície rochas só da parte mais superficial da crosta terrestre, cuja espessura média, como se devem lembrar, é da ordem dos 35 quilómetros. Mesmo esses quilómetros todos representam muito pouco quando comparados com os já referidos mais de 6300 km do raio da Terra.
- Mas podemos ir ainda mais fundo. Não é avô? – Disse o Domingos
- Podemos, sim senhor, através de rochas do manto trazidas cá para cima, dentro da lava de alguns vulcões. Mais adiante, quando falarmos do manto, voltaremos a este assunto.
- São os xenólitos, avô. – Apressou-se o neto a dizer. - Já lá iremos.
- Moderou o avô. – Mas fiquem a saber que podemos ir ainda mais fundo, não com rochas vindas dessas profundidades, mas com outros conhecimentos. Já temos hoje uma ideia muito razoável sobre o interior do nosso planeta, sobretudo com base no estudo dos sismos, ou seja, dos tremores de terra. Um tema sobre o qual falaremos um dia destes.
- Eu dei essa matéria lá na Escola, mas foi tudo muito à pressa. - Disse o Domingos.
- Mais tarde hão-de saber como e porquê, mas por agora basta que saibam que, com base nos registos dos sismos muito fortes, podemos saber que o nosso planeta tem um núcleo, rodeado por um capa esférica muito espessa, a que damos o nome de manto que, por sua vez, está rodeado por outra capa relativamente muito fininha que é a crosta.
- Ó avô, faz de conta que o caroço da cereja é o núcleo, aquilo que a gente come é o manto e que a pele é a crosta. – Insistiu o neto em dizer.
- Correcto. Essa é uma boa imagem para explicar a estrutura interna do nosso planeta e, já agora, Domingos, “aquilo que a gente come” chama-se polpa.
- Eu sabia, avô, mas saiu assim.
- Muito bem. – Pôs fim à conversa, o avô. – Hoje ficamos por aqui. O tempo é todo vosso até serem horas de deitar.
A. Galopim de Carvalho

07 setembro, 2017

Solte as amarras



“Daqui a alguns anos você estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez. Então solte suas amarras. Afaste-se do porto seguro. Agarre o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra.” Mark Twain


02 setembro, 2017

Amizade


“Friends are like lighthouses, with the sources of light coming from their heart.”
Tom Baker

31 agosto, 2017

Para os braços da minha mãe

Cheguei ao fundo da estrada
Duas léguas de nada
Não sei que força me mantém
É tão cinzenta a Alemanha
E a saudade tamanha
E o verão nunca mais vem
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa
Que a noite já aí vem
Trouxe um pouco de terra
Cheira a pinheiro e a serra
Fiz vinte anos no chão
Na noite de Amsterdão
Comprei amor pelo jornal
Vim em passo de bala
Um diploma na mala
Deixei o meu amor p'ra trás
Faz tanto frio em Paris
Sou já memória e raiz
Ninguém sai donde tem paz
Quero ir para casa
Quero voltar
Para os braços da minha mãe
Quero voltar

21 julho, 2017

Esperança e fé



Faith in future, hope in present
John C. Maxwell

Fé no futuro, esperança no presente
John C. Maxwell
(tradução livre)


20 julho, 2017

A maior aventura

Somos



"Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos, "sem querer".
Sigmund Freud

19 julho, 2017

Algún día te encontrarás



Algún día en cualquier parte, en cualquier lugar
indefectiblemente te encontrarás a ti mismo, y esa,
sólo ésa, puede ser la más feliz o la más amarga de tus horas.

Pablo Neruda

18 julho, 2017

A liberdade de pensar


Fotografia: ©Jonatasphotography 
Reproduzida com autorização do autor

A liberdade de pensar nem sempre encontra respaldo na liberdade de comunicar.

"Livre pensar é só pensar", diz Miller, com razão.

Já comunicar pode sofrer restrições contra as quais a luta deve ser permanente, dependendo o seu sucesso de uma eterna vigilância.

Al Stevens
No espírito de O Principezinho

15 julho, 2017

Canção de Hans, o marinheiro




Se tu soubesses
que em todos os portos do mundo
há uma mão desconhecida
a acenar - adeus, adeus - quando se parte prò mar;
se tu soubesses
que o mar não tem fronteiras nem distâncias
é sempre o mar;
se tu soubesses
a noite nas águas
onde os barcos são berços
e os marinheiros meninos a sonhar;
se tu soubesses
o desamor à vida quando o vento grita temporais
e a morte vem abraçar os homens na espuma das vagas;
se tu soubesses
que em todos os portos do mundo
há um sorriso para quem chega chega do mar;
se tu soubesses vinhas comigo prò mar
embora as nuvens do céu
e os ventos que vêm do Este e do Oeste, do Sul e do Norte
digam ao mundo que vai haver o temporal maior que todos!


Manuel da Fonseca

12 julho, 2017